Gestão do governo Tarcísio de Freitas é marcada por compromissos assumidos e não cumpridos e obras inacabadas em cidades da região
A Praça da Cidadania, em Diadema, é um dos símbolos do descaso do Estado no Grande ABC. O equipamento – com quadra esportiva, arena ao ar livre, pergolado e área de jogos, além da escola de qualificação profissional – é do Fundo Social do Estado, chefiado pela primeira-dama Cristiane Freitas. A unidade deveria ter sido entregue em dezembro de 2023, mas segue fechada. A estrutura está abandonada, cercada por mato alto e tapumes fechando o local, que não tem previsão de abertura.
O problema atinge também o setor de habitação. Em Santo André, o Residencial Clara, no Camilópolis, com 480 apartamentos, está com o processo construtivo parado. O empreendimento estava previsto para ser entregue em janeiro de 2024, mas segue sem data para inauguração. Há mais de um ano ninguém trabalha nas obras.
Em Diadema, os conjuntos habitacionais N e O, que deveriam ter sido entregues em novembro de 2024 e maio deste ano, respectivamente, e beneficiariam 800 famílias, não saíram da fundação. A empresa contratada para a realização do projeto simplesmente abandonou a obra.
Na área de mobilidade, as obras para implementação do BRT – sistema de ônibus de alta velocidade com corredores exclusivos para o transporte em massa – caminham lentamente. A inauguração do modal deveria ocorrer em julho de 2023, dois anos atrás.
A construção dos corredores e estações do BRT começaram em fevereiro de 2022 e tinham como previsão inicial conclusão em 18 meses. Dois anos depois do prazo original de entrega ainda se observam muitas áreas recebendo terraplanagem, principalmente na divisa de São Bernardo com São Caetano, próximo da Praça Mauá.
Após cinco alterações na data de entrega, o Estado agora garante entregar o BRT-ABC em junho do ano que vem.
A Linha 20-Rosa do Metrô, que partirá de Santo André, passando por São Bernardo, até à Estação Santa Marina, em São Paulo, também apresenta problemas.
Tarcísio reiteradamente tem dito que a construção do ramal deve começar pelo Grande ABC. “Queremos começar pela região, mas é preciso construir pátio de manobras e manutenção. Estudos estão em andamento”, disse o governador recentemente.
Todavia, o DUP (Decreto de Utilidade Pública), essencial à desapropriação de imóveis para a expansão da rede metroferroviária ao Grande ABC, foi anunciado pelo Estado para fevereiro, mas nada havia avançado até esta segunda-feira (11). Santo André e São Bernardo estão no páreo para serem sede do pátio.
Há reclamações de atraso também no programa de drenagem urbana e manejo de águas pluviais, intervenções necessárias contra enchentes. Em março, a secretária de Estado de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, Natália Resende, anunciou recursos para o setor em Mauá. O Palácio dos Bandeirantes se comprometeu a encaminhar R$ 2,8 milhões, mas até o momento a Prefeitura não recebeu um único centavo.
Em 2023, Mauá também pediu cerca de R$ 10 milhões ao Estado para ampliar a vazão da água acumulada no Piscinão do Paço para o Rio Tamanduateí, do outro lado da estrada de ferro por onde circulam as composições da Linha 10-Turquesa da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos). O município obteve o aval para a obra, mas o dinheiro, ao menos até agora, não chegou.
No setor da saúde, o vice-governador Felício Ramuth (PSD), em agenda no mês de janeiro em Diadema, admitiu que o Estado poderia regionalziar a Cross (Central de Regulação de Oferta de Serviços de Saúde), um pleito do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC. “É um caminho interessante. Existe a possibilidade e vamos estudar com carinho”, disse, na ocasião.
Até segunda-feira (11), não havia resposta para o pleito. Assim como no caso das duas novas AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades) também prometidas por Ramuth a Ribeirão Pires e Diadema.
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OUTRO LADO
O Diário questionou secretarias e departamentos do governo do Estado sobre os atrasos no andamento de obras no Grande ABC. Apenas o Fundo Social, da Praça da Cidadania em Diadema, não respondeu.
A CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) disse que o Residencial Clara está “com 85% das obras executadas” e que “realiza o processo de seleção de uma nova empresa para concluir a construção”. Sobre o conjunto O de Diadema, garantiu que prepara nova licitação. “A empresa contratada inicialmente solicitou realinhamento de valores, o que não foi aceito pela CDHU.” O N está em fase de elaboração de estudos ambientais.
Sobre a Linha 20-Rosa, o Metrô confirmou atrasos, mas não apontou data para publicação do DUP. A companhia disse estar estudando diferentes locais. “Quando concluída, a avaliação possibilitará o processo para o Decreto de Utilidade Pública, auxiliando também para o início da construção da linha pela região do Grande ABC – após a finalização do projeto básico previsto para 2026”, argumentou, em nota.
Já a Secretaria de Estado da Saúde afirmou que mantém diálogo com os municípios, “por meio de diversas reuniões técnicas e encontros com os gestores” para a construção conjunta de soluções regionais, mas também não apresentou prazos para os projetos prometidos pelo governador.
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