A secretária relata ainda o funcionamento do SUAMM (Sistema Unificado de Atendimento às Mulheres de Mauá), que tem como foco as ações de prevenção e de conscientização, bem como o atendimento em conjunto com outros setores da administração municipal para que a vítima possa ter acesso a vários serviços básicos, como saúde e educação. Cida se orgulha dos resultados e também de ver o SUAMM servindo de modelo para cidades do Estado de São Paulo.
RAIO X
Nome: Aparecida de Souza Maia
Aniversário: 17 de abril
Onde nasceu: Acopiara, Ceará
Onde mora: Jardim Zaíra, em Mauá
Formação: Pedagogia, com especialização em Gestão de Cidades
Um lugar: Sítio Açudinho, onde nasceu
Time do coração: Corinthians
Alguém que admira: Minha mãe, Vilanir Gonçalves da Cruz Souza
Um livro: Vitimologia e Justiça Restaurativa, do Instituto Pró Vítima
Uma música: Pra Todas as Mulheres, Mariana Nolasco
Um filme: O Auto da Compadecida, de Guel Arraes, 2000
Quais são as maiores dificuldades no enfrentamento à violência contra a mulher?
Muitas mulheres não sabem que são vítimas de violência ou, quando sabem, têm medo ou não conhecem o serviço de acolhimento que oferecemos no SUAMM (Sistema Unificado de Atendimento às Mulheres de Mauá). Por isso, nosso foco são as ações de prevenção, que chamamos de atenção, explicando como funciona o ciclo de violência, para que ela possa se reconhecer e buscar ajuda. A segunda etapa é o atendimento e, por fim, a rede. Nós a encaminhamos para outras Pastas para que elas possam receber tudo em um único lugar, saúde, formação, emprego, assistência jurídica, e possa recomeçar sua vida.
Como funciona essa rede integrada?
Daqui fazemos os encaminhamentos conforme a necessidade da mulher. Ela passa pela psicóloga e, se ela está abalada demais e precisa de atendimento psiquiátrico, entramos em contato com a Secretaria de Saúde. Tem mulheres que chegam aqui sem dentes, então encaminhamos para o tratamento dentário para reconstrução de seus dentes. Elas fazem cursos de formação para ter uma profissão e encaminhamos também para a Secretaria de Trabalho, Renda e Empreendedorismo de Mauá para que ela possa ter uma renda. Fazemos esse trabalho de direcionar para cursos e emprego porque a dependência financeira é um dos maiores problemas, é um impedimento para essa mulher romper o ciclo de violência.
Qual a importância dessa integração?
O importante desse sistema é que ele vai funcionar independentemente de quem esteja no governo, porque ele atua com o que já existe. Não preciso ter aqui dentro uma central de empregos porque já temos a Secretaria de Trabalho e Renda. O secretário destinou uma mulher dentro da secretaria para ela não bater lá sozinha e ter de contar toda sua história de violência de novo. De forma discreta, ela é encaminhada por nós e a pessoa de lá já vai acolher e buscar sigilosamente no mercado de trabalho uma oportunidade. Uma outra situação é quando a criança precisa mudar de escola para sair do risco da situação de violência. Nós fazemos todo esse processo, a Diretoria de Ensino já fecha o sistema para que fique sigiloso o endereço das crianças. Essa mulher e as crianças passam a ser uma responsabilidade não só da Secretaria da Mulher, mas do governo como um todo. Por isso dizemos que é um sistema único em que reunimos todas as necessidades dela em um único serviço, que tem se tornado referência para outras cidades.
Como se dará esse compartilhmento?
Propusemos na Conferência Regional das Mulheres, que ocorreu agora em julho, e passamos a proposta para as conferências estadual e nacional. Levamos como proposta para avaliação para, de repente, ser criado um sistema único de atendimento à mulher em todo o País, da mesma forma que existe o SUS (Sistema Único de Saúde). As cidades de Bofete e Hortolândia, Interior de São Paulo, quiseram conhecer o nosso modelo de legislação e vieram nos visitar. Pode até ser que a cidade tenha o serviço, mas não está organizado em um sistema. Nossa estrutura não é imensa, mas conseguimos organizar o atendimento em um único espaço. A Sandra Kennedy, secretária nacional de Articulação Institucional, Ações Temáticas e Participação Política do Ministério das Mulheres, vem para Mauá dos dias 15 a 18 para acompanhar nosso sistema.
Quantas mulheres já foram atendidas?
Já passaram por aqui, desde 2021 (ano de criação do SUAMM), 2.860 mulheres, das quais 1.039 aceitaram receber atendimento. Somente neste ano, foram 381 e, no momento, 183 estão sendo atendidas. Destas, 98 têm medida protetiva e 32 aceitaram ser acompanhadas pela Patrulha Maria da Penha. Esse número é muito bom porque muitas resistem, têm medo ou acham que não precisam. Recebemos mulheres com ou sem boletim de ocorrência, porque elas ainda estão em um momento de reconhecimento de que estão passando por violência.
Como tem conseguido ampliar este atendimento?
Nós intensificamos as ações para que elas saibam do serviço. Como começamos a busca ativa em fevereiro. E neste mês do Agosto Lilás estamos com uma agenda intensa. Levantamos, logo que assumimos, os boletins de ocorrência de violência doméstica do ano de 2024. Temos uma equipe que vai a campo para promover a prevenção.
O que são essas ações de prevenção?
Vamos às ruas, escolas, unidades de saúde, diversos locais do dia a dia das pessoas. Explicamos quais são os ciclos de violência e nossos serviços, caso elas se enquadrem. Focamos em levar informação sobre o ciclo de violência para a vítima ou pessoas próximas reconhecerem. As escolas têm sido uma porta muito importante com adolescentes do ensino médio. Alguns jovens reconhecem a violência em casa ou com a vizinha e repassam a informação. Todo lugar que vamos sempre tem alguém que vem depois conversar em particular para contar alguma situaçã. Ou até já se reconhece na situação de violência, mas não sabia que existe o serviço e que acolhemos mesmo quem ainda tem medo de fazer a denúncia. Elas sabendo vão ainda divulgar para amigas, vizinhas e família. Colamos cartazes nas regiões com maiores índices de violência. Também vamos em unidades do Cras (Centro de Referência de Assistência Social). Por isso teve um crescimento de demanda espontânea, nós aumentamos a divulgação.
Para as mulheres que fizeram um boletim de ocorrência e têm medida protetiva, como a Patrulha Maria da Penha atua?
Algumas mulheres precisam de acompanhamento mais de perto da patrulha, visita toda semana e avaliamos a necessidade. Isso é importante porque quando o agressor vê a patrulha, ele se afasta. A ronda é uma estratégia. É feito um mapeamento das mulheres que têm a medida por região e montado um itinerário. Tem mulher que quer a visita em casa, e outras que só passe na rua. Tivemos um caso recentemente em que a mãe chorava por não poder levar sua filha para uma apresentação da escola, já que os horários tinham sido divulgados na rede social da escola e ela tinha medo do agressor aparecer. Para ela poder ir, a patrulha ficou lá na porta da escola para a criança poder se apresentar e brincar. A patrulha também acompanha a retirada dos pertences na casa onde ela vivia com o agressor.
Atuam somente com jovens e mulheres ou há abordagem do público masculino?
Sim, também. Inclusive, nesse mês de Agosto Lilás, uma de nossas atividades será a realização de palestras com homens. Apresentamos quais são os tipos de violência contra a mulher e todo o ciclo porque ele pode se enxergar como agressor. Se conscientizarmos esse público, teremos menos agressores e, consequentemente, menos violência.
A senhora é natural do Ceará. Quando e por que acabou vindo para Mauá?
Sou a filha do meio de duas irmãs e dois irmãos e nasci em Acopiara, no Ceará. Um tio meu veio primeiro para Mauá para conquistar condições melhores de vida e foi trazendo aos poucos a família. Aos sete anos, vim morar aqui com minha avó porque ela ficou sozinha depois que os filhos casaram. Minha mãe só pôde vir dois anos depois. Fui morar no Jardim Zaíra, onde estou até hoje, casei há mais de 34 anos e tenho uma filha de 33.
Como iniciou sua participação na política?
O meu envolvimento na política se deu por inspiração dos meus pais, que sempre foram muito engajados. Lembro de quando era criança subir nos caminhões de comício na nossa cidade. Minha base foi aí, as lutas sociais pelas minorias nos nossos bairros. Em 24 de abril de 1989 me filiei ao PT. Minha primeira luta foi pelo passe escolar e conquistamos o direito ao desconto de 50% na passagem. Mantive essa atuação em paralelo à minha carreira de 35 anos como professora e diretora da rede estadual de ensino em Mauá.
E agora pode acabar assumindo uma cadeira de vereadora?
O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) validou os votos do Luiz Cuer (PT), que tinha tido a candidatura indeferida, e dessa forma eu terei direito, pelos votos do partido, à cadeira, caso queira assumir. Ainda não tem uma data, mas eu acredito que é importante eu aceitar porque, primeiro, serei a única mulher na Câmara, e lá poderei defender no Legislativo os direitos da mulher.
E quais serão seus principais objetivos na Câmara?
A primeira questão que quero defender da Câmara é a Procuradoria da Mulher. Outra questão que acho que precisa ser bastante debatida na cidade é creche, porque quando estou negando um direito da criança, na ampla maioria, são mulheres que estão sendo atingidas. Com a pandemia, temos muitos devendo para a Prefeitura. Por que não mapeamos essas escolas particulares que devem e transformamos a dívida em vagas? E a Secretaria de Educação vai fazer um mapeamento das regiões com mais crianças fora da escola, porque creche para mim é educação. Esse já foi um projeto pelo qual eu lutei em 2024 quando fui vereadora e vou continuar.
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