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Novas plataformas vão disputar mercado bilionário de títulos de empresas
09/08/2025 | 11:44
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A indústria de infraestrutura para o mercado vem se movimentando a passos largos para não deixar escapar a oportunidade de se posicionar no bilionário mercado secundário de títulos emitidos por empresas, como debêntures, certificados de crédito imobiliário (CRI) e do agronegócio (CRA).Somente nos primeiros seis meses de 2025, o volume de debêntures negociado no mercado secundário - o maior entre os títulos de crédito privado - cresceu 22,6%, atingindo o patamar recorde de R$ 410,1 bilhões, segundo a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).É mais do que o dobro do volume captado no mercado primário de debêntures, que somou R$ 192,7 bilhões no mesmo período, e deve continuar crescendo pela frente, inclusive com a chegada de empresas de menor porte facilitada pelas novas regras da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) a partir de 2026.B3, Bee4, CSD e SL Tools já estão se preparando para abocanhar um pedaço deste mercado, seja das grandes ou das pequenas companhias, por meio da oferta de um ambiente de negociação e estruturas para o registro e liquidação. Cada uma delas está em diferente estágio, mas o fato é que a movimentação mostra que finalmente o mercado de crédito privado ganhou corpo.A B3, que já tem uma história centenária em negociação de ações, relançou no ano passado sua plataforma para negociação de títulos de renda fixa, envolvendo públicos e privados. A Bee4 e a SL Tools vieram com estratégias semelhantes este ano, enquanto a CSD BR está autorizada desde dezembro do ano passado a registrar a emissão, depositar e liquidar debêntures.Embora este seja um grande mercado, a dinâmica de negociação destes títulos é bem diferente do que a das ações, que têm um livro central de ordens e papéis padronizados. Os negócios com títulos de crédito privado ocorrem no chamado mercado de balcão, fechados privadamente entre as partes, e não há publicidade de preços.Portanto, esse deve ser o grande desafio das empresas que vão agora testar este mercado, junto a bancos e corretoras, que já têm seus próprios ambientes de negociação, que concentram hoje quase todo o volume do mercado.O que está sendo agora proposto pelas empresas de infraestrutura de mercado é a concentração de parte do volume de transações em uma única plataforma, com ordens de compra e venda expostas e negócios fechados ao melhor preço. A expectativa dessas companhias é de que, por meio de funcionalidades e ferramentas de gestão e investimento, possam atrair pelo menos parte do mercado.Barreira culturalA B3 reinaugurou em novembro do ano passado sua plataforma de negociação de operações de títulos de renda fixa, públicos e privados, que passou a ser chamada Trademate. "Não há uma barreira tecnológica, mas cultural, na forma que o mercado está acostumado a operar", disse o vice-presidente de produtos e clientes da B3, Luiz Masagão.Todas as negociações do mercado secundário de títulos de crédito privado passam pela B3, por meio do registro, liquidação e custódia. Desde janeiro, foi registrado na B3 um volume de R$ 786 bilhões em negociações feitas de forma privada no mercado de títulos de crédito público e privado."É utópico pensar que todos os players desse mercado estarão dispostos a colocar ofertas de compra e venda na nossa tela", afirma. Mas ele acredita que deve haver inicialmente aderência para que venham para a tela ao menos os papéis mais líquidos, os quais o mercado já conhece os detalhes.Para enfrentar a resistência cultural, Masagão afirma que a ideia da B3 é abordar os gestores, que estão na ponta compradora, e podem arrastar os vendedores a mostrarem seus preços. A B3 estuda os caminhos, entre eles a contratação de market makers (formadores de preços) e melhorias na divulgação de preço e publicidade de informação de mercado, para que a ordem ganhe relevância e o preço na tela seja melhor do que quando a operação é feita no balcão.Masagão comenta ainda que instrumentos de negociação bilateral, onde o comprador envia pedido de compra para alguns vendedores e executa na plataforma, também são visto como opção. De acordo com ele, este é o modelo internacional. Mesmo nos Estados Unidos, observa ele, que é o principal mercado de títulos de crédito privado e uma referência, a tela é capaz de atrair 50% dos negócios. "A imensa maioria opera no modelo bilateral", afirma.ConcorrênciaA SL Tools quer colocar em operação em breve sua plataforma de títulos de crédito privado de empresas e bancos. "Em setembro já estaremos aptos a operar todas as debêntures, CRAs e CRIs depositadas na B3. Vamos operar e a B3 vai liquidar", diz o CEO e cofundador da SL, André Duvivier. Mas apesar de utilizar a B3 para a "cozinha" das transações, a proposta da companhia é ter um ambiente de negociação que concorra com a Bolsa.Para ele, a competição é natural, à medida que o amadurecimento do mercado de crédito privado e a tecnologia permitem que esse setor ganhe escala. "Virou uma classe de ativos que o brasileiro aprendeu a investir e vai continuar crescendo porque o juro sempre será alto no Brasil", acrescenta.A entrada em vigor do Regime Fácil em janeiro de 2026, para facilitar o acesso de empresas de menor porte ao mercado de capitais, deve aquecer ainda mais o mercado de crédito privado. É nesse nicho que está de olho a Bee4, que nasceu focada nas "menores" como o primeiro mercado regulado além da B3 para emissão de ações.A Bee4 recebeu aval da Comissão de Calores Mobiliários (CVM) para operar no mercado com debêntures e notas comerciais. A sócia-cofundadora e CEO, Patricia Stille, destaca que existam ao menos R$ 2 trilhões no mercado com demanda direcionada para títulos privados de renda fixa, vindo de investidores como fundos de pensão e seguradoras.A Bee4 mapeou 380 mil empresas no Brasil com faturamento anual entre R$ 5 milhões a R$ 500 milhões, ou seja, que atendem as regras do Fácil. Elas vão poder fazer emissões de ações e renda fixa de até R$ 300 milhões com regras mais simples e menos burocracias a partir de 2 de janeiro de 2026.



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