O que a maioria das pessoas não sabe é que muitos sintomas físicos são reflexos do modo como vivemos, da nossa rotina de trabalho e até do território onde moramos. Muitas vezes, não é uma simples dor que começa do nada. Ela já estava ali e se manifesta quando algum sintoma se agrava.
Quando não se está bem mental e emocionalmente, o corpo fala. Sabe aquela dor de cabeça que não tem explicação, aquele batimento cardíaco mais forte mesmo sem estar em situações de adrenalina ou uma simples dor no pé, sem nem mesmo tê-lo torcido?
É o luto de uma mãe que perdeu um filho de forma violenta, um avô que cria a neta sozinho e está contando com a aposentadoria para ter o mínimo para ambos sobreviverem, a adolescente que não se sente aceita em nenhum grupo na escola, a idosa que não recebe a visita da família, a jovem que foi abandonada pelo namorado depois de anos de namoro, o rapaz que perdeu o emprego do dia para a noite.
Essas são apenas algumas situações que marcam profundamente a saúde emocional e que podem se traduzir em dor física. Pressão alta, insônia, dores de cabeça e no corpo, falta de apetite ou compulsão alimentar, são alguns exemplos.
E como o médico pode entender isso, investigando, além dos exames diagnósticos? Por meio de uma habilidade que se chama escuta. A partir da comunicação clínica, que é algo aprendido durante a graduação, sendo parte integrante das Diretrizes Curriculares Nacionais da graduação em Medicina, os médicos desenvolvem aptidão para, por meio de uma conversa, entender o que pode estar causando aquela dor, quando aparentemente, não há nada físico.
Sabe aquela frustração de quando você vai ao médico e sente que não foi bem compreendido? De acordo com o artigo ‘Os impactos da comunicação inadequada na relação médico-paciente’, publicado na Revista Brasileira de Educação Médica, uma coleta de dados indicou que os pacientes, em 13% das vezes, tiveram dificuldade de comunicar ao médico o que sentiam.
O acolhimento deve ser muito mais que um processo técnico, quando a pessoa faz uma pré-consulta indicando porque está naquele serviço de saúde buscando algum tipo de apoio. Ele deve continuar no olhar médico, não apenas no sentido literal, mas naquele que enxerga muito além de um relato sobre o que se está sentindo.
Afinal, cada dor traz uma história, conforme já indicado acima, e a cura pode estar muito além de um simples comprimido. Já que a empatia é um termo que está cada vez mais popular, estar no lugar daquela pessoa pode auxiliar a entender o que ela está querendo dizer, na falta de palavras e explicações diretas sobre o que se passa na vida da pessoa. Até porque, dependendo da situação, muitas vezes, o paciente não sabe ou consegue descrever o que está sentindo, principalmente, se aquela dor tem um fundo ou origem emocional.
Cabe a nós, médicos, traduzir, estudar e investigar o que está por trás daquele sofrimento, sempre com paciência e com a também famosa Comunicação Não Violenta para que possam dignamente, amenizar aquela dor, independentemente da origem dela.
Fabiano Gonçalves Guimarães é presidente da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade.
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