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Entre os pacientes dos Caps da região, 15% têm mais de 60

Envelhecimento traz uma série de desafios que impactam na saúde mental; Centro Dia de S.Bernardo oferece apoio psicossocial aos idosos

04/08/2025 | 08:36
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FOTO: André Henriques/DGABC
FOTO: André Henriques/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


 Os Caps (Centros de Atenção Psicossocial) de Santo André, Diadema e Rio Grande da Serra somam 847 idosos em atendimento atualmente. Eles representam aproximadamente 15% do total de pacientes. O número é proporcional à porcentagem de idosos na população da região – dos 2.696.530 habitantes, 16,8% têm mais de 60 anos.

Ainda assim, o atendimento psicológico precisa ser ampliado, especialmente nesta fase da vida. Com o avançar da idade, as mudanças no corpo e nas relações sociais podem afetar profundamente a saúde mental dos indivíduos, conforme explica a psicóloga e coordenadora de projetos do Centro Dia de São Bernardo, Amanda WachtLer.

“Uma das maiores questões de adoecimento da pessoa idosa é a perda da função social e, com ela, vem o isolamento e o capacitismo em relação à idade. Nós ouvimos eles aqui e vamos buscando um novo lugar para eles, dando-lhes um propósito”, explica Amanda.

O Centro Dia é um espaço de acolhimento mantido pela Prefeitura de São Bernardo e administrado pela ONG (Organização Não Governamental) Ficar de Bem, que atende atualmente 44 idosos. Eles participam de oficinas e grupos terapêuticos que ajudam no restabelecimento da saúde mental. Entre as atividades, estão canto, teatro, pintura e artesanato. Quando há a necessidade de um acompanhamento psicológico individual, é feito um encaminhamento ao Caps. 

O pesquisador de mercado aposentado Mauricio Bovo, 65 anos, saiu do contraste de uma rotina agitada de quem passou por mais de 300 cidades brasileiras a trabalho com a de uma vida em que teve de desacelerar. “É um desafio para mim. Moro sozinho, não tive filhos e acabo tendo uma relação solitária”, afirma. O paulistano, que há 52 anos vive em São Bernardo, teve depressão e ansiedade há cerca de três, e avalia que deveria ter cuidado muito antes de sua saúde mental. “Precisamos começar antes a nos preocupar com isso. É impactante quando você toma consciência de que precisa cuidar de seu emocional, e eu tomei da pior maneira. Estava em um processo depressivo, mas não sabia o que era aquilo, não conseguia sair da cama. Achava que era algo físico, até ter uma crise forte e procurar uma UBS (Unidade Básica de Saúde)”, conta. “Lá me encaminharam ao psiquiatra e para o Centro Dia. Estou frequentando há dois anos e meio e aqui encontrei um espaço mágico que é a troca de experiências”, completa.

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CRESCIMENTO

A população idosa tem crescido a cada ano – 76% no Grande ABC de 2010 a 2022, de acordo com o Censo Demográfico, e junto com aumento da janela de tempo nesta fase da vida vem a necessidade de lidar com ela. “Muitas vezes, o processo de envelhecimento vem acompanhado de perdas e isolamento. A perda do papel social, as mudanças fisiológicas e as dificuldades físicas os tornam dependente do outro. Fazemos essa escuta e acolhimento deles e das famílias, pois algumas não sabem lidar com a mudança desse idoso e inversão de papéis”, afirma a psicóloga. 

LIMITAÇÕES

A professora andreense aposentada Alice Gomes, 65, viveu essa troca de papéis ainda bem cedo. Mãe de três filhos, dois homens e uma mulher, aos 42 ela sofreu um AVC (Acidente Vascular Cerebral), que comprometeu os movimentos do lado esquerdo de seu corpo e, temporariamente, sua fala. 

“Digo para minha filha, que está com 42 anos, que agora ela é a mãe e eu, a filha. Ela cuida muito bem de mim”, ressalta. “Eu gostava de dançar, pular corda e amarelinha com as crianças. Mas conheci uma nova Alice depois do AVC e hoje sou muito feliz. Aqui no Centro Dia me apoiam a acreditar que sou capaz de fazer coisas e mesmo com só uma mão faço trabalhos manuais nas oficinas”, conta. 

As limitações físicas também abalaram o engenheiro elétrico aposentado Antonio Facha, 77. Paulista de Jaú e residente na cidade são-bernardense desde 1970, em 2022, ainda em atividade profissional, precisou amputar a perna direita em função de um problema vascular. “Depois de 46 anos trabalhando, tive que parar e isso foi um impacto muito grande para mim. Gostaria de voltar a atua na área que amo”, afirma Facha, que é divorciado e tem dois filhos, mas decidiu morar sozinho. Durante o dia, ele recebe o apoio psicossocial do Centro Dia. 




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