Nas últimas semanas, o chamado “tarifaço do Trump” contra o Brasil voltou aos holofotes e gerou preocupação legítima no setor produtivo, no comércio exterior e entre autoridades brasileiras. Mas é importante separar o alarmismo da realidade, sem perder a noção da gravidade do problema — e, principalmente, sem deixar que a polarização tome conta de mais um debate que deveria ser técnico, estratégico e nacional.
Vamos aos fatos. No início de julho, os Estados Unidos anunciaram a aplicação de tarifas de até 50% sobre uma série de produtos brasileiros. O impacto inicial parecia total, dando a entender que praticamente todas as exportações do Brasil para os EUA seriam atingidas. No entanto, ao longo das últimas semanas, houve ajustes e atualizações importantes.
Hoje, o cenário é o seguinte: cerca de 45% dos produtos brasileiros exportados aos americanos como laranja, petróleo, celulose e aeronaves, já foram retirados da lista, ou seja, estão fora do chamado “tarifaço”. Outros 20% estão incluídos em tarifas que valem para todos os países, não apenas para o Brasil — o que significa que não se trata de uma retaliação direta, mas de uma política comercial mais ampla dos Estados Unidos.
O ponto de atenção, portanto, está nos 35% restantes: essa fatia das exportações brasileiras para os EUA ainda corre risco real de sofrer tarifas elevadas. E não se trata de produtos secundários. Estamos falando de itens estratégicos, como café, carne, cobre e outros bens de alto valor agregado, que sustentam cadeias produtivas inteiras e afetam diretamente o agronegócio, a indústria e milhares de empregos no Brasil.
Ou seja: ainda que o tarifaço tenha sido parcialmente amenizado, o problema continua sendo grave. Esses 35% representam uma parcela muito relevante das exportações brasileiras para os Estados Unidos, que são um dos nossos principais parceiros comerciais. Qualquer restrição tarifária significativa pode desorganizar mercados, encarecer nossos produtos lá fora e, em última instância, impactar o bolso do produtor, do trabalhador e do consumidor aqui dentro.
Por isso, o momento exige menos discurso político e mais ação prática. Essa não é hora de buscar culpados ou de transformar o tema em munição ideológica. O que está em jogo é o interesse nacional, e o caminho para proteger esse interesse passa por gestão, diplomacia e diálogo técnico com o governo americano. O Brasil tem até o dia 6 de agosto para tentar reverter ou suavizar os efeitos desse tarifaço. É pouco tempo, mas é tempo suficiente para mostrar seriedade e competência.
É fundamental que o governo federal atue de forma coordenada, envolvendo o Itamaraty, o Ministério da Fazenda, o Ministério da Agricultura e representantes do setor privado. O Brasil precisa apresentar dados, construir pontes e deixar claro que qualquer barreira comercial injustificada não apenas prejudica o Brasil, mas também encarece produtos no mercado americano e pode comprometer relações históricas entre os dois países.
Além disso, é preciso lembrar que o comércio exterior é uma via de mão dupla. Se o Brasil for tratado como inimigo, é legítimo que também reavalie suas políticas comerciais. Mas essa retaliação não deve ser impulsiva — ela precisa ser estratégica, firme e responsável. O melhor cenário ainda é o do acordo. E ele só virá com maturidade.
Em tempos tão marcados por polarizações, é bom lembrar: não há lado político quando se trata da defesa dos interesses do Brasil. É preciso ter foco no que realmente importa: proteger empregos, garantir competitividade e manter canais abertos com quem, historicamente, foi nosso parceiro comercial.
Mais uma vez, o recado é claro: menos política, mais gestão.
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