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Inconformismo é a bola da vez
Rodolfo de Souza
31/07/2025 | 09:12
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FOTO: Seri/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra


 Pensar é exercício dos mais praticados quando muito se viveu, quando muito se leu e se observou. Talvez seja essa a razão pela qual minha mente segue inquieta. Diga-se de passagem, mais do que nunca à deriva nesse imenso mar de insensatez que torna enfadonha a tarefa de navegar num cotidiano repleto de dissabores. 

Tudo o que vivemos hoje, é possível, vem alterando nosso modo de ver as coisas, de tal forma que o inconformismo se apossou do espírito pensante e lhe tirou o direito ao sono. Consequentemente, os sonhos lhe foram ceifados nas noites em que um mundo feio e perigoso tornou-se a única realidade, a única alternativa, segundo a visão distorcida de cada um. Sequer somos capazes de lembrar que ainda existe beleza no azul do céu, nas águas, nas árvores e nos bichos. Também as artes, me parece, estão perdendo espaço para o mau gosto, fiel representante do lado insensível, até mesmo obscuro de uma vida onde a parca inteligência tem o domínio da situação.

E esse quadro torna-se ainda mais assustador quando se percebe que homens e mulheres não mais se dão conta do que vem ocorrendo bem debaixo dos seus narizes. A normalidade preguiçosa e abobalhada que se agarrou às pessoas, tenta agora devorá-las aos poucos, como se fosse uma enorme sucuri. E essa gente não se dá conta disso, dada a letargia que, devagar, tem engessado seus cérebros.

Ninguém se importa com as guerras, com os massacres por meio das bombas e pela fome. Tudo soa natural, como natural se tornou a forma como as pessoas passam uma vida inteira lutando contra forças ocultas que lhes impedem de possuir casa, conforto na condução para o trabalho, uma vida regrada de bem-estar, de paz... tudo isso, haja vista, direito de qualquer cidadão.

Nada contra o capitalismo, que fique bem claro. Entretanto, é ele que tem fomentado o enriquecimento de uma minoria à custa da mão de obra barata, às vezes gratuita, da maioria, a quem é negado um quinhão que lhe permita viver com dignidade. A esta é atribuído somente o dever de pagar impostos para que aquela minoria, a quem é concedido o privilégio de não pagar, se refestele com lagosta e champanhe em luxuosíssimos iates. Sonhos com os quais as mentes singelas nem se afinam. Mentes que pouco sabem, que desconhecem a própria força, que se assustam diante da simples ideia de reagir, porque cresceram enganadas pelos veículos de comunicação, sempre atrelados ao sistema financeiro, ao poder do capital que os utilizam para o controle das massas. 

O povo, na verdade, habituou-se, através dos tempos, a aceitar como sendo seu o lugar de operário a serviço do patrão que, afinal, nascera para ser patrão, jamais empregado. Logicamente que, para que haja patrão, é preciso ter operário que toque o negócio. Até aí, nenhuma objeção. O problema, no entanto, está no abismo que separa uma e outra classe. Desigual, pois, aos extremos é a vida de um e de outro que, aos olhos do universo, são iguais desde a sua concepção até o seu desaparecimento.

Rodolfo de Souza nasceu e mora em Santo André. É professor e autor do blog cafeecronicas.com




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