A fibromialgia é um exemplo emblemático de doença para a qual não são oferecidos exames laboratoriais, de imagem, ou outros, que confirmem sua existência, com o diagnóstico sendo definido por critérios exclusivamente clínicos.
O quadro pode se apresentar por dores no entorno de articulações, sobre grupos musculares ou generalizadas, as quais perduram sem respeitar padrões fixos, frequentemente transtornando brutalmente a qualidade de vida de seus portadores.
Por não haver componente inflamatório nas articulações, ossos ou músculos sobre os quais a sensibilidade dolorosa se instala, é extremamente provável que haja comprometimento no processamento cerebral acerca das informações sensitivas provenientes destas regiões.
Esta desordem interpretativa provavelmente é estendida a outros setores, justificando a frequente coexistência de síndrome do intestino irritável e/ou cistite intersticial, com considerável aumento na frequência de evacuações e/ou micções.
Adicionalmente, 50% dos portadores de fibromialgia possuem depressão, sugerindo estreita conexão entre os centros processadores de dor e aqueles da linhagem emotiva.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), 3% da população brasileira possui fibromialgia, com 70 a 90% deste universo sendo composto por mulheres.
E é sobre esse cenário, pouco cartesiano, enevoado e com inúmeros vieses permissivos a contestações, que foi sancionada a lei que vigorará a partir de 2026, tornando todos aqueles pacientes com diagnóstico de fibromialgia portadores de deficiência (PcD).
Com isso, aqueles acometidos por esta enfermidade poderão se beneficiar de várias políticas públicas, entre elas a gratuidade no transporte público, atendimento prioritário, isenção de impostos e Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Emergem questionamentos acerca desta lei, não pelo que propõe, pois é legítimo, mas por aquilo que não elucida: diante do crônico subfinanciamento de nosso heroico Sistema Único de Saúde, da deficitária carteira previdenciária e da notória fragilidade socioeconômica, de onde virão os recursos?
Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.